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O Sino de Saramago

Em 22/11/2022 por Antoneli Consultoria em Gestão Empresarial


Contou Saramago esta interessante história havida em Florença há mais de quatrocentos anos, época em que a vida camponesa de uma aldeia era toda de afazeres ao cultivo, ao cuidado dos lares e pios aos ritos religiosos: o sino da igreja dobrou melancolicamente a finados. Era surpreendente pois ninguém da aldeia estava em passamento.

Em pouco tempo, reunidos no adro da igreja, aqueles camponeses esperavam que alguém lhes dissesse a quem prantear. E o sino continuou a tocar um pouco mais a batida lamentosa de finados até que enfim calou-se e um camponês apareceu à porta e, para surpresa de todos, não era o sineiro habitual e sim um camponês que se explicou: “Ninguém morreu, toquei a finados pela Justiça pois a Justiça está morta”.

Sem circunstanciar o desenrolar da história de Saramago, é profética a atitude do campônio ao expressar seu sentimento de que “…a Justiça está morta”. Quantos, ao passar dos séculos, ao sentir a iniquidade das atitudes humanas, se concedeu ao direito de julgar a Justiça pelo seu inconformismo?

E sinos e mais sinos foram sendo tocados no decorrer dos anos, seja para anunciar um momento importante para sua comunidade, ou marcar as horas de trabalho, ou a chamar para um evento; em alguns casos, na angústia das guerras, para alertar o terror que se avizinhava.

Porém, a essência de um sino é sua propagação. Fiel aos seus princípios, leva ao longe os motivos de suas badaladas.
Por isto, hoje, procuramos avidamente por um sino, ou sinos, enfim por todos os tipos de sinos que possam, não só dobrar a finados, mas melodiar tocadas que nos tragam de volta as chamadas das missas pela manhã, ao meio-dia para o Ângelus e a qualquer momento para o anúncio do fim dos conflitos, e para as celebrações.

Esses sinos devem, através dos seus toques, glorificar a vitória da Justiça em cada momento em que por ela se possa aplacar os homens sombrios. O toque dessa Justiça plena, traz o despertar da felicidade, alerta o momento de se colocar a roupa nova, o anseio de um encontro amoroso ou ir ao encontro das risadas dos amigos. Nesse momento não há contestação de alguma injustiça, ao contrário, é a reafirmação de que a Justiça corre em seu curso normal, é o grande rio da Democracia irrigando os campos férteis.


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