
Justiça ordena prisão imediata de três médicos envolvidos em esquema de tráfico de órgãos em Taubaté
Crime ocorreu na década de 1980, mas médicos foram condenados apenas em 2011. Eles recorriam em liberdade até agora.
Em 17/10/2024 11:00 por Redação Guia Taubaté

A Justiça determinou a prisão imediata de três médicos envolvidos em um esquema de tráfico de órgãos revelado na década de 1980, em Taubaté. A decisão, tomada pelo juiz Flávio de Oliveira César, da Vara do Júri de Taubaté, atende à determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que exige o cumprimento imediato de penas impostas pelo Tribunal do Júri, mesmo quando há possibilidade de recurso em instâncias superiores.
Os médicos Pedro Henrique Masjuan Torrecilhas, Rui Noronha Sacramento e Mariano Fiore Júnior foram condenados a 15 anos de prisão em regime fechado por homicídio doloso de quatro pacientes. A decisão foi publicada nesta segunda-feira, 14 de outubro.
As defesas dos três condenados reagiram à determinação. O advogado de Rui Noronha Sacramento, Sérgio Alvarenga, afirmou que discorda da decisão, argumentando que a prisão imediata não é obrigatória, mas uma possibilidade a ser analisada em cada caso. Ele também destacou que seu cliente está respondendo em liberdade há quase 40 anos sem prejudicar o andamento do processo.
A defesa de Mariano Fiore Júnior, representada por Sérgio Badaró, impetrou um habeas corpus para suspender os efeitos da decisão, alegando que a prisão viola princípios fundamentais, como a presunção de inocência.
Gustavo Badaró, advogado de Pedro Henrique Masjuan Torrecilhas, também lamentou a decisão, afirmando que tomará todas as medidas jurídicas necessárias para restabelecer a garantia de presunção de inocência do cliente.
O Caso Kalume
O esquema de tráfico de órgãos veio à tona em 1987, quando o médico Roosevelt Kalume denunciou que havia um programa ilegal de retirada de rins de cadáveres e pacientes vivos no antigo Hospital Santa Isabel, em Taubaté, sem o seu consentimento. A denúncia resultou na abertura de um inquérito policial e, em 2011, os três médicos envolvidos foram levados a júri popular, que culminou na condenação deles por homicídios dolosos.
O escândalo ganhou destaque nacional e chegou a ser investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 2003, que apurava o tráfico de órgãos no Brasil.
Após anos de investigação, a Polícia Civil concluiu que quatro pacientes morreram em decorrência do esquema. Outro médico envolvido, Antônio Aurélio de Carvalho Monteiro, faleceu em 2011, pouco antes do julgamento.
O julgamento resultou em uma pena inicial de 17 anos e 6 meses de prisão para cada um dos três médicos, reduzida posteriormente para 15 anos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) em 2021. Durante todos esses anos, eles responderam em liberdade devido à ausência de antecedentes criminais.
Em 1988, os acusados foram absolvidos das acusações de tráfico de órgãos e eutanásia pelos Conselhos Regionais e Federal de Medicina. Além disso, o Caso Kalume contribuiu para a discussão sobre a regulamentação dos transplantes de órgãos no Brasil, resultando em mudanças na legislação.
Roosevelt Kalume publicou um livro sobre o caso em 1993, em que relatava os fatos utilizando nomes fictícios para os envolvidos. A obra, que fez parte do processo contra os médicos, deixou de ser publicada posteriormente.
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